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Setembro amarelo: como funciona o atendimento do CVV


Setembro ficou conhecido como mês de combate ao suicídio e a cor escolhida para representar este movimento é o amarelo devido a um jovem de 17 anos, Mike Emme, que se suicidou em um Mustang amarelo que ele mesmo havia pintado dessa cor. Mike era conhecido por ser alegre e caridoso, e como acontece na maior parte dos casos, ninguém percebeu a angústia que escondia.

Em 2003 a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou o dia 10 de setembro como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, indicando a cor amarelo para simbolizar a data. Esta mesma Organização reconhece e apoia as atividades do CVV - Centro de Valorização à Vida.

O CVV foi criado no Brasil em 1962 pelo jovem Jacques Conchon, de 20 anos, após ter conhecido o pastor Chad Varah, fundador do Samaritans, da Inglaterra, Instituição que atendia por telefone pessoas em sofrimento emocional.

O número de suicídio é 4 vezes maior entre homens. Nos últimos anos, aumentou muito também o número de crianças e adolescentes que procuram o serviço. Há pessoas que subestimam as dores das pessoas dessa faixa etária, mas vale lembrar que cada um tem um grau de consciência e que, situações que podem ser muito tranquilas para uns, podem ser muito difíceis e dolorosas para outros - nada deve ser subjugado.

Entre 2013 e 2016, fui voluntária do CVV, além de facilitadora de grupo. Para fazer parte da equipe, é preciso passar por um treinamento semanal com duração de cerca de 4 meses, no qual o voluntário precisa aprender sobre a filosofia da Instituição, além de passar, em um segundo momento, a ter várias simulações práticas de atendimento, para só então ser liberado. Tudo para garantir o sigilo, o respeito e o atendimento adequado a quem procura ajuda. 

Os atendimentos tem como base os estudos e práticas de Carl Rogers, psicólogo que desenvolveu a abordagem centrada na pessoa. Esse sistema de atendimento baseia-se em 6 premissas:

1. Para que se desenvolva este processo, duas pessoas precisam estar em contato, ou seja, não há como fazer consigo mesmo.
2. A pessoa que precisa de atendimento está vulnerável, ansiosa, em sofrimento.
3. O atendente precisa estar congruente nesta relação, ou seja, estar integrado em si mesmo, para não se tornar vulnerável também. 
4. O atendente se coloca em estado de completa aceitação em relação ao atendido, no que se chama consideração positiva incondicional - ou seja, não há julgamento. Isso faz com que a pessoa sinta-se à vontade para expôr tudo o que pensa e sente, sem máscaras ou medos.
5. Há compreensão empática do quadro interno do atendido. O atendente busca enxergar e compreender a realidade pelos olhos do atendido.
6. Há a comunicação dessa compreensão empática. O atendente, nesta etapa, expõe o que compreendeu ao atendido, de forma a facilitar que este possa enxergar a si mesmo e a partir disso, encontrar meios para resolver o que lhe causa angústia.

Essa sistemática de Rogers foi desenvolvida a partir de seus atendimentos em consultório e da ideia de que todos têm capacidade para encontrar respostas e caminhos para sua angústia. Dentro dessa visão, o intuito dos atendimentos é fazer com que a pessoa consiga perceber em si aquilo que não está conseguindo enxergar sozinha, e a partir disso, desenvolver os próprios meios para resolver essas questões. Este processo é muito importante para que a pessoa redescubra seu potencial e força para viver melhor, tornado-se um ser mais integrado e completo.

O intuito do atendimento do CVV não é aconselhar ou dar soluções, pois de acordo com estas premissas, isso tira do atendido a chance de que desenvolva seu potencial e cresça com seus aprendizados. Além disso, quando outra pessoa dá conselhos ou soluções para uma questão, isto é feito com base nas próprias experiências e visão de mundo, não corresponde à visão de mundo da pessoa que pede ajuda. Portanto, aconselhar pode gerar resultados desastrosos. Na visão de atendimento do CVV, a melhor pessoa para encontrar soluções é ela mesma, pois sua experiência e visão de mundo são únicas, e merecem respeito e incentivo. 

Este ponto gera algumas controvérsias, pois há algumas pessoas que exigem um conselho ou solução na hora do atendimento, e quando isso não lhes é dado, a pessoa acaba se sentindo frustrada. De qualquer forma, o simples ato de falar e se sentir ouvida faz com que a pessoa se sinta mais leve e em vários casos, aliviada por dividir o peso que carregava sozinha. 

Os atendimentos do CVV são gratuitos. A instituição atende por telefone no número 188 - que desde 2017, não tem tarifação - via chat ou pessoalmente, em postos da Instituição. Acesso ao chat ou maiores informações podem ser obtidas no endereço cvv.org.br. Voluntários também são muito bem-vindos, pois a demanda para atendimento é grande, e basta três horas semanais disponíveis. Para ser um voluntário, basta acessar o mesmo endereço virtual e clicar na aba "voluntário".  

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